DIÁLOGOS DO TOQUE   |  Um filme de Manuela Eichner (aprox. 20min) 

O filme-dança  “Diálogos do Toque” é uma produção audiovisual, em versão curta-metragem (aproximadamente 20 minutos), que transita entre o documental e a performance, com atuação das dançarinas, Patrícia Bergantin e Danielli Mendes. O projeto foi idealizado pela artista visual Manuela Eichner, tem a produção do coletivo Cigarra Filmes, co-direção de Vitor Campanario e direção de fotografia de Vicente Otávio. As gravações ocorreram em agosto de 2021, durante a pandamia do Covid 19 na praia Toque-Toque Grande, São Sebastião, litoral norte do Estado de São Paulo.




“Diálogos do toque” aborda a interação de corpos humanos com vários ambientes da natureza experimentando suas texturas, trocas, elementos e composições. Da areia árida à mata úmida, da rocha sólida às águas agitadas do mar. Em meio a paisagens visualmente exuberantes, duas performers da dança (Patrícia Bergantin e Danielli Mendes) exploram limites sensoriais, instintos, movimentos e sentidos provocados pelos elementos que as cercam. O lugar perfeito com relações distópicas. A relação humano-natureza interrompida e descontinuada.





“Diálogos do toque” é mais do que um filme.  É um expressivo fragmento que compõe a pesquisa desenvolvida, nos últimos anos, pela artista visual Manuela Eichner. Pesquisa esta que vem da sua inquietação sobre o desequilíbrio  das  ações humanas perante a natureza;  da ruptura da noção de pertencimento;  da ficção de uma superioridade em relação às outras espécies; dos dramas eminentes do aquecimento global; e de dúvidas que permeiam a nossa imersão nos dispositivos tecnológicos contemporâneos.  

O filme foi idealizado durante a pandemia global do Covid-19, período em que a artista residiu em Toque-Toque Grande, uma vila de pescadores localizada no litoral norte de São Paulo. A imersão em meio à elementos de praia (mar, areia, rochas) e mata atlântica (plantas, musgos, córregos e cachoeiras) trouxe para a artista um religare com esses ambientes, assim como, novas leituras estéticas e visuais que produziram desdobramentos na sua pesquisa.

O deslocamento físico também provocou uma inversão de olhar: o reconhecimento de diferentes formas de consciência e inteligência das outras espécies, assim como a existência de outras linguagens e maneiras de se comunicar. Para a artista, tornou-se evidente o entendimento de que, no toque, há sempre o encontro de dois corpos, que se sentem e afetam.  Não apenas o humano toca a planta, ele também é tocado por ela.

As personagens do filme permeiam extremos entre a conexão e a desconexão com os elementos que as rodeiam. Ora elas se entregam ao mar, à areia, às rochas ao vento. Ora elas se isolam com equipamentos de proteção individual (EPIs) - constituído por luvas, óculos e macacões - como se evitassem algum tipo de contágio com o ambiente.

Do que temos medo de nos contaminar? Do que estamos nos apartando? Por quê?  Estas são algumas das questões que a artista propõe como  provocação, uma tensão surreal sobre as relações de pertencimento do humano como ser vivo, da vida como passagem incontrolável, do fluxo como impermanência. A superioridade humana é posto a jogo em quadros de cenas que evidenciam através de grandes  dimensões e escalas: um pequeno corpo em meio a mata densa ou na imensidão da praia. Gestos de desconforto e tensões oscilando entre comunhão e intimidade, ressaltam a distopia e o “bug” que a humanidade transformou a sua forma de se relacionar com a natureza.


 

Sobre a equipe 

Manuela Eichner é Artista Visual formada em Escultura pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Natural de Arroio do Tigre/RS, vive e trabalha entre São Paulo e Berlim. Múltipla, a sua produção abarca desde vídeos e performances até oficinas colaborativas, passando pelo desenvolvimento de ilustrações, instalações e murais. Nessas diferentes frentes recorre sistematicamente a princípios de colagem, ruptura e embaralhamento da unidade espacial. Participou de projetos como Rumos Itaú Cultural; Salão Arte Pará; Bienal de Curitiba; ZK/U, em Berlim; AnnexB e Brooklyn Brush, em Nova York; Fikra Graphic Design Biennial, em Sharjah, Emirados Árabes; IASPIS residency em Malmö, Suécia e CND Centre Nacional de la Danse + Cité des Arts em Paris, França.  

Vitor Campanario é fotógrafo e realizador audiovisual, atuante desde 2012. Tem formação em Arquitetura pela PUC (MG); pós-graduação em Geografia, Cidade e Arquitetura pela Associação Escola da Cidade (SP); cursou direção de fotografia na Academia Internacional de Cinema (SP) e no Ateliê Bucareste de Cinema. Também estudou cinema digital e arquitetura na Politecnico Di Torino (Itália), aonde assinou a direção de fotografia do curta-metragem Un caffé (2015) dirigido por Jéssica Mateus; e do curta Sotto L´ombra di una Guerra (2014), dirigido por Antônio Augusto Teixeira. No Brasil, dirigiu o documentário Pela Terra (2016); o curta documental Nós, a Terra e Eles (2019); e a direção de fotografia do documentário As Camadas das Águas Invisíveis (2021) do diretor piauiense Antônio Augusto Teixeira. Atuou como assistente de edição nos curtas Ninguém Entra Ninguém Sai (2020) e Ocupagem (2020), ambos dirigidos pelo cineasta Joel Pizzini. Também dirigiu e fotografou o curta Se Piscar Já Era (2020); e o curta Um Pequeno Quarto Estreito, com atuação da artista Síria Yara Ktaish. Como assistente de direção trabalhou no longa-metragem Depois do Trem, de Joel Pizzini e como montador, no filme Abdzé Wede´õ, do cineasta Divino Tserewahú.

Vicente Otávio é fotógrafo e diretor de fotografia de produções audiovisuais.  É formado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Tiradentes (Unit) e cursou direção de fotografia no Ateliê Bucareste de Cinema. Em 2016, começa a trabalhar como "videomaker" no mercado audiovisual produzindo filmes documentais, pequenas ficções, peças publicitárias, institucionais, videoclipes e shows. Tendo desempenhado diferentes funções dentro do audiovisual (direção, fotografia, edição e cor), especializou-se no departamento de fotografia e diretor de fotografia.

Pat Bergantin é artista da dança. Como educadora, desenvolve a prática Corpo Antena. Também faz parte da equipe pedagógica da Escola do Reparar do Modo Operativo AND, criada pela antropóloga e artista Fernanda Eugenio. Formada em Balé Clássico pela Escuela Nacional de Cuba, é graduada no curso de Letras da Universidade de São Paulo (USP). Atuou em trabalhos como “Mandíbula”, “Égua” e “Contágio”, em colaboração com Josefa Pereira; “Monstra”, de Elisabete Finger e Manuela Eichner; e “Duplos”, de Talita Florêncio e Thiago Salas. Apresentou-se em lugares como no Programa Risquer le Vide pela Universidade Côte D'Azur (FRA-2021), Moderna Museet na Suécia (2020), Bienal de Dança SP (2019), Festival Internacional de Dança do Uruguay (FIDCU-2018) e Museu de Arte Moderna (MAM-SP-2018). Estudou em Veneza (Itália), Bruxelas (Bélgica), Havana (Cuba) e NY (EUA), e trabalhou com Marta Soares, Jorge Garcia, Ricardo Gali, Jerôme Bel, Tino Sehgal, Angie Hiesl & Roland Kaiser e Yvonne Rainer.

Danielli Mendes é artista e professora de Artes Corporais Chinesas. Formada em Dança pela Universidade Estadual de Campinas. Dedica-se ao estudo da Anatomia Chinesa e suas aplicações estéticas e terapêuticas através das técnicas Qi Gong, Lian Gong em 18 Terapias e Kung Fu. Seus principais trabalhos como performer e bailarina são “Antonia” (2016), de Morena Nascimento; “Monstra” (2017/2020), de Elizabete Finger e Manuela Eichner; “Shine” (2017/18) e “Pós-sacre” (2021)), da Cia. Perversos e Polimorfos com direção de Ricardo Gali; “Quiero hacer el amor” (2017-19); “Tremor magnífico” (2020), de Carolina Bianchi; “JAMZZ” (2019); e projeto “Fora” (2021), de Cristian Duarte.  Atuou como assistente de direção (2017) de Marta Soares nas obras “Deslocamentos” e “Bondages”.