DIÁLOGOS DO TOQUE   |   Dir: Manuela Eichner, Vitor Campanario | Brasil | 2025 | 24 min | Livre | Co-produção SescTV


“Diálogos do Toque” é um filme-dança que transita entre o documental e a performance, com atuação das dançarinas, Pat Bergantin e Danielli Mendes. Idealizado e realizado pela artista visual Manuela Eichner com co-direção de Vitor Campanario, tem a produção do coletivo Cigarra Filmes e Olho-Pião Filmes. Conta com a trilha sonora original de Carla Boregas, participação de Juçara Marçal, e falas do líder indígena e xamã Davi Kopenawa Yanomami. Em meio a paisagens exuberantes, as personagens permeiam extremos entre a conexão e a desconexão do ambiente. Ora elas se entregam ao mar, à areia, às rochas, ao vento. Ora elas se isolam com equipamentos de proteção individual, evitando o contato. Gestos de desconforto e tensões oscilam entre comunhão e intimidade, ressaltam a distopia humano-natureza.

Temáticas socioambientais abordadas: Oceano, água, emergência climática, distopia, povos tradicionais, biodiversidade.






“Diálogos do toque” aborda a interação de corpos humanos com vários ambientes da natureza experimentando suas texturas, trocas, elementos e composições. Da areia árida à mata úmida, da rocha sólida às águas agitadas do mar. Em meio a paisagens visualmente exuberantes, duas performers da dança (Patrícia Bergantin e Danielli Mendes) exploram limites sensoriais, instintos, movimentos e sentidos provocados pelos elementos que as cercam. O lugar perfeito com relações distópicas. A relação humano-natureza interrompida e descontinuada.





“Diálogos do toque” é mais do que um filme.  É um expressivo fragmento que compõe a pesquisa desenvolvida, nos últimos anos, pela artista visual Manuela Eichner. Pesquisa esta que vem da sua inquietação sobre o desequilíbrio  das  ações humanas perante a natureza;  da ruptura da noção de pertencimento;  da ficção de uma superioridade em relação às outras espécies; dos dramas eminentes do aquecimento global; e de dúvidas que permeiam a nossa imersão nos dispositivos tecnológicos contemporâneos.  

O filme foi idealizado durante a pandemia global do Covid-19, período em que a artista residiu em Toque-Toque Grande, uma vila de pescadores localizada no litoral norte de São Paulo. A imersão em meio à elementos de praia (mar, areia, rochas) e mata atlântica (plantas, musgos, córregos e cachoeiras) trouxe para a artista um religare com esses ambientes, assim como, novas leituras estéticas e visuais que produziram desdobramentos na sua pesquisa.

O deslocamento físico também provocou uma inversão de olhar: o reconhecimento de diferentes formas de consciência e inteligência das outras espécies, assim como a existência de outras linguagens e maneiras de se comunicar. Para a artista, tornou-se evidente o entendimento de que, no toque, há sempre o encontro de dois corpos, que se sentem e afetam.  Não apenas o humano toca a planta, ele também é tocado por ela.

As personagens do filme permeiam extremos entre a conexão e a desconexão com os elementos que as rodeiam. Ora elas se entregam ao mar, à areia, às rochas ao vento. Ora elas se isolam com equipamentos de proteção individual (EPIs) - constituído por luvas, óculos e macacões - como se evitassem algum tipo de contágio com o ambiente.

Do que temos medo de nos contaminar? Do que estamos nos apartando? Por quê?  Estas são algumas das questões que a artista propõe como  provocação, uma tensão surreal sobre as relações de pertencimento do humano como ser vivo, da vida como passagem incontrolável, do fluxo como impermanência. A superioridade humana é posto a jogo em quadros de cenas que evidenciam através de grandes  dimensões e escalas: um pequeno corpo em meio a mata densa ou na imensidão da praia. Gestos de desconforto e tensões oscilando entre comunhão e intimidade, ressaltam a distopia e o “bug” que a humanidade transformou a sua forma de se relacionar com a natureza.


 

Sobre a equipe 

Manuela Eichner é Artista Visual formada em Escultura pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Natural de Arroio do Tigre/RS, vive e trabalha entre São Paulo e Berlim. Múltipla, a sua produção abarca desde vídeos e performances até oficinas colaborativas, passando pelo desenvolvimento de ilustrações, instalações e murais. Nessas diferentes frentes recorre sistematicamente a princípios de colagem, ruptura e embaralhamento da unidade espacial. Participou de projetos como Rumos Itaú Cultural; Salão Arte Pará; Bienal de Curitiba; ZK/U, em Berlim; AnnexB e Brooklyn Brush, em Nova York; Fikra Graphic Design Biennial, em Sharjah, Emirados Árabes; IASPIS residency em Malmö, Suécia e CND Centre Nacional de la Danse + Cité des Arts em Paris, França.  

Pat Bergantin é artista da dança. Como educadora, desenvolve a prática Corpo Antena. Também faz parte da equipe pedagógica da Escola do Reparar do Modo Operativo AND, criada pela antropóloga e artista Fernanda Eugenio. Formada em Balé Clássico pela Escuela Nacional de Cuba, é graduada no curso de Letras da Universidade de São Paulo (USP). Atuou em trabalhos como “Mandíbula”, “Égua” e “Contágio”, em colaboração com Josefa Pereira; “Monstra”, de Elisabete Finger e Manuela Eichner; e “Duplos”, de Talita Florêncio e Thiago Salas. Apresentou-se em lugares como no Programa Risquer le Vide pela Universidade Côte D'Azur (FRA-2021), Moderna Museet na Suécia (2020), Bienal de Dança SP (2019), Festival Internacional de Dança do Uruguay (FIDCU-2018) e Museu de Arte Moderna (MAM-SP-2018). Estudou em Veneza (Itália), Bruxelas (Bélgica), Havana (Cuba) e NY (EUA), e trabalhou com Marta Soares, Jorge Garcia, Ricardo Gali, Jerôme Bel, Tino Sehgal, Angie Hiesl & Roland Kaiser e Yvonne Rainer.

Danielli Mendes é artista e professora de Artes Corporais Chinesas. Formada em Dança pela Universidade Estadual de Campinas. Dedica-se ao estudo da Anatomia Chinesa e suas aplicações estéticas e terapêuticas através das técnicas Qi Gong, Lian Gong em 18 Terapias e Kung Fu. Seus principais trabalhos como performer e bailarina são “Antonia” (2016), de Morena Nascimento; “Monstra” (2017/2020), de Elizabete Finger e Manuela Eichner; “Shine” (2017/18) e “Pós-sacre” (2021)), da Cia. Perversos e Polimorfos com direção de Ricardo Gali; “Quiero hacer el amor” (2017-19); “Tremor magnífico” (2020), de Carolina Bianchi; “JAMZZ” (2019); e projeto “Fora” (2021), de Cristian Duarte.  Atuou como assistente de direção (2017) de Marta Soares nas obras “Deslocamentos” e “Bondages”.

Vitor Campanario é fotógrafo e realizador audiovisual, atuante desde 2012. Tem formação em Arquitetura pela PUC (MG); pós-graduação em Geografia, Cidade e Arquitetura pela Associação Escola da Cidade (SP); cursou direção de fotografia na Academia Internacional de Cinema (SP) e no Ateliê Bucareste de Cinema. Também estudou cinema digital e arquitetura na Politecnico Di Torino (Itália), aonde assinou a direção de fotografia do curta-metragem Un caffé (2015) dirigido por Jéssica Mateus; e do curta Sotto L´ombra di una Guerra (2014), dirigido por Antônio Augusto Teixeira. No Brasil, dirigiu o documentário Pela Terra (2016); o curta documental Nós, a Terra e Eles (2019); e a direção de fotografia do doc. As Camadas das Águas Invisíveis (2021) do diretor piauiense Antônio Augusto Teixeira. Como assistente de direção trabalhou no longa-metragem Depois do Trem, de Joel Pizzini e como montador, no filme Abdzé Wede´õ, do cineasta Divino Tserewahú.

Vicente Otávio é fotógrafo e diretor de fotografia de produções audiovisuais.  É formado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Tiradentes (Unit) e cursou direção de fotografia no Ateliê Bucareste de Cinema. Em 2016, começa a trabalhar como "videomaker" no mercado audiovisual produzindo filmes documentais, pequenas ficções, peças publicitárias, institucionais, videoclipes e shows. Tendo desempenhado diferentes funções dentro do audiovisual (direção, fotografia, edição e cor), especializou-se no departamento de fotografia e diretor de fotografia.

Carla Boregas é uma musicista, compositora e artista sonora brasileira. Ao fundir instrumentação e técnicas sintéticas e acústicas, Boregas esculpe cenários sonoros onde a sensação de presença e descoberta se encontra entre a densidade e a delicadeza. Seu trabalho abrange composição, improvisação, performance, instalação sonora e arte radiofônica. A trajetória artística de Boregas engloba uma ampla gama de projetos solo e colaborativos. Ela é cofundadora da banda de punk experimental RAKTA; lançou seu álbum solo de estreia, “Pena ao Mar”, pelo selo sueco iDEAL Recordings; apresenta-se frequentemente em duo com o percussionista brasileiro M. Takara; é curadora do festival e plataforma Radical Sounds Latin America, em Berlim; e mais recentemente lançou um novo álbum com a artista transdisciplinar Anelena Toku, intitulado “Fronte Violeta”, pelo selo Other People, de Nicolás Jaar.

Juçara Marçal é cantora e compositora. Faz parte do trio Metá Metá. Já integrou os grupos Vésper Vocal e A Barca. Lançou em 2014 o disco solo ENCARNADO. O álbum ganhou o Prêmio APCA – Melhor Álbum de 2014, Prêmio Governador do Estado – Melhor Álbum – Voto do Júri, e Prêmio Multishow de Música Compartilhada, entre outros. Em 2015, lançou ANGANGA, em parceria com Cadu Tenório. Em 2017, com Rodrigo Campos e Gui Amabis, lançou o disco Sambas do Absurdo (com vol.2 lançado em 2022). Juçara Marçal lançou em setembro de 2021 o álbum Delta Estácio Blues, com produção musical de Kiko Dinucci, em parceria com os selos QTV, Mais Um Discos e Goma Gringa e com o apoio da Natura Musical. Delta Estácio Blues ganhou o prêmio de Melhor Álbum de 2021 pelo Super Júri do Prêmio Multishow, a música Crash ganhou o de Melhor Canção. O disco também foi escolhido pela APCA como o melhor álbum de 2021. Em 2022, Juçara foi indicada ao Grammy Latino, na categoria Rock e Música Alternativa.

Thiago Eichner é designer e mentor brasileiro, com formação e carreira consolidadas em Nova Iorque, que traz uma perspectiva global ao seu trabalho. Apaixonado por narrativas, atua nas áreas de design de comunicação, redação e design de exposições. Em Nova Iorque, colaborou com instituições culturais de renome, como a Juilliard School, onde foi diretor de design, e o New-York Historical Society, além de marcas globais como Pfizer e Universal McCann. Na área acadêmica, é professor de design na Fashion Institute of Technology (FIT), em Nova Iorque, e também leciona em escolas de design em Londres, como a Shillington e a London Fields. Atualmente, divide seu tempo entre Salvador e Nova Iorque, expandindo sua prática criativa, fomentando novas colaborações e mergulhando nas culturas locais.

Nik Neves (1976) é desenhista, quadrinista e ilustrador. Produz a revista independente “Inútil”, onde publica seus projetos autorais e sua produção de quadrinhos. Como ilustrador contribui mensalmente para revistas e editoras do Brasil, Espanha, França, Alemanha e Inglaterra. Estudou artes visuais no Instituto de Artes (UFRGS), ilustração na EINA (Universidad Autónoma de Barcelona), tipografia e quadrinhos na SVA (School of Visual Arts, Nova York). Seu trabalho de ilustração atualmente foi premiado pelo American illustration como um dos dez melhores da América Latina. Está entre os autores publicados no livro “Illustration now!5” (2014), da editora alemã de livros de arte Taschen, e "Mind the Map" da também alemã Gestalten.