JARDIM, COLAGEM E FEMINISMO 

| Uma viagem pela obra de Hannah Höch 


“Além dessa função de proteção, o jardim também cumpria a função vital de uma fonte de alimentação para a artista. Höch, que teve que manter sua obra de arte escondida até o final da guerra, viveu daquilo que colhia no jardim e do que ela podia vender de frutas, verduras e flores. Até a sua morte, em maio de 1978, o jardim foi seu refúgio e a base mais importante para o seu trabalho artístico. [...]

No geral, o jardim de Hannah Höch é, ao mesmo tempo, um símbolo de perseverança e resistência das plantas à intolerância e ao esquecimento”.



“Neben dieser Schutzfunktion erfüllte der Garten für die Künstlerin ebenso die lebenswichtige Funktion einer Nahrungsquelle. Höch, die ihre Kunstwerke bis zum Kriegsende verborgen halten muss, lebt von dem, was sie im Garten erntet und was sie an Obst, Gemüse und Blumen verkaufen kann. Bis zum ihrem Tod im Mai 1978 ist der Garten ihr Refugium und die wichtigste Grundlage für ihre künstlerische Arbeit. [...] Insgesamt ist Hannah Höchs Garten zugleich ein Symbol der Beharrlichkeit und des pflanzlichen Widerstandes gegenüber Intoleranz und Vergesse“ (STURM & BAUERSACHS, 2007)





Apresentação

Hannah Höch  (1889 -1978) foi uma influente artista alemã, precursora da colagem e da luta pelos direitos da mulher na sociedade moderna. Considerada a primeira a produzir colagem feminista no mundo,  Hannah trabalhava com imagens de revistas, jornais e publicidade, tendo a mulher como figura predominante.  Com suas obras, provocava questões relativas à sexualidade e a papéis de gênero, defendendo o direito a voto e novas possibilidades para as mulheres na Alemanha.

Em 1917, tornou-se a única mulher a integrar o Dadaísmo em Berlim, movimento de vanguarda, criado durante a Primeira Guerra Mundial, que contestava os valores culturais racionais e a arte acadêmica tradicional. Ao lado do artista Raoul Hausmann (também integrante do Dadaísmo, com quem passou a ter um relacionamento amoroso), Höch foi pioneira da arte de fotomontagem.

Para sobreviver ao nazismo, se refugiou numa casa afastada, em  Berlin-Heiligensee, local que se tornou tema essencial da sua obra, um  abrigo para a elaboração do sofrimento e dos traumas da guerra, como retratado na colagem “Propellerdisteln” de 1952.

Em meio ao seu jardim, Höch também produziu alimentos que a permitiram se nutrir e vender aos habitantes dos arredores, e enterrou suas colagens e de outros artistas, na ânsia de salvaguardar a arte da época. Essa arte, do início do século XX, revela um tipo de técnica que, passados mais de um século, continua sendo referência para o trabalho de artistas do mundo todo.    

Höch criou algumas das obras mais radicais da época, porém, na maior parte do tempo, foi negligenciada pela história da arte tradicional. Embora em vida seu trabalho nunca tenha sido verdadeiramente valorizado, ela continuou a produzir as suas fotomontagens e a exibi-las até à data da sua morte, em Berlim, aos 89 anos de idade. 




Justificativa 


Há dez anos a artista visual brasileira, Manuela Eichner, trabalha com colagem, produzindo obras autorais, ministrando cursos e desenvolvendo pesquisas.  Em meio a seus estudos sobre o tema, Eichner descobriu o trabalho de Hannah Höch, sobre o qual, não apenas construiu uma identificação e admiração, mas o transformou em um importante tema entre as suas pesquisas.

Desde 2017,  Eichner tem investigado os vestígios que se tem sobre a pioneira da colagem feminista. Em 2018, quando morou na Alemanha, visitou a casa de Hannah Höch em Heilingensee, nos arredores de Berlin. Nessa busca, a brasileira conheceu o artista e escritor, Johannes Bauersachs, responsável pelos cuidados da casa “Hannah Höch Künstlerhaus”, e autor do livro “Ich verreise in meinen Garten” (2007).

Também na época, Eichner, encontrou uma relevante parte do acervo de obras Höch e delivros sobre a artista, na “Berlinische Galerie”, aos cuidados de Katharina Hoffmann, com quem estabeleceu contato. Já no final da temporada na Alemanha, conheceu Anja Lutz, diretora do espaço de experimento gráfico e design  “A-Z”, e co-fundadora da editora The Green Box, que publica livros e gravações de áudios originais de Hannah.

Todas estas conversas, visitas, leituras e anotações, possibilitaram a Eichner compor uma rica cartografia sobre a vida de Hannah Höch, e mais do que isso, sobre um traçado indispensável da história da colagem moderna.




Intenções e objetivos  do projeto

Este projeto tem como objetivo promover uma série de ações e produtos culturais sobre a história da colagem, partindo da trajetória de Hannah Höch e do que ela pode representar no elo entre: arte, natureza e feminismo. Considerando a cartografia produzida por Eichner, o projeto deverá ser desenvolvido como uma ação integrada, executada a partir de três elementos principais: exposição, workshop e catálogo.


A exposição

Tendo como vantagem o mapeamento da vida e obra de Höch que já foi realizado, a ideia é vincular as respectivas instituições responsáveis para reunir e trazer um número representativo de obras em papel para uma exposição no Sesc São Paulo - SP, Brasil. Intitulada  Feminismo e colagem: o legado de Hannah Höch, a exposição tem como proposta ser composta por:

  • Obras originais de Hannah Höch;
  • Projeção digital de obras que não poderem ser deslocadas; 
  • Livros e materiais gráficos sobre a artista Hannah Höch;
  • Obras de artistas contemporâneos que dialoguem com a pesquisa ( comissionados); 


O workshop

Intitulado Leituras e releituras de Hannah Höch,  o workshop será voltado para artistas que se relacionem  com as práticas da colagem, ou que estejam interessados em se introduzir neste estilo. As atividade serão ministradas pela artista Manuela Eichner, com carga horária total de 16h, prevendo:

  • uma aula teórica sobre a vida e a obra de Hannah Höch;
  • uma aula teórica sobre introdução e métodos de colagem;
  • uma aula prática sobre colagem;
  • uma aula de produção temática em colagem;


O catálogo

Ao desenrolar do projeto pretende-se construir um material gráfico - em versão impressa e digital - contendo as principais obras da artista alemã, assim como textos histórico-biográficos abordando questões relacionadas à vida da personagem central. Entre os temas abordados estão:

  • imagens das obras da artista;
  • biografia da artista;
  • os desafios de ser uma artista, mulher, em um período de guerras e conflitos;
  • seu pionerismo e relação com a colagem;
  • o jardim como refúgio;
  • a mulher nas publicações impressas e fotografias de sua época;
  • a influência da sua arte nas colagens contemporâneas;
  • a colagem como arte ativista; 

*O conteúdo do catálogo será produzido com base nas pesquisa da artista Manuela Eichner e contará com o  suporte de sua equipe técnica composta pela produtora executiva, jornalista e mestra em antropologia, Luana Feldens; e pela doutora em comunicação, jornalista e tradutora (alemão/portugues), Luisa Barreto.     


Equipe : 
Concepção, pesquisa e direção : Manuela Eichner
Projeto Curatorial : Manuela Eichner e Olivia Ardui 
Produção : Larissa Ferreira 
Tradução e revisão : Luisa Barreto


Sobre a equipe : 

Manuela Eichner é Artista Visual formada em Escultura pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Natural de Arroio do Tigre/RS, vive e trabalha entre São Paulo e Berlim. Múltipla, a sua produção abarca desde vídeos e performances até oficinas colaborativas, passando pelo desenvolvimento de ilustrações, instalações e murais. Nessas diferentes frentes recorre sistematicamente a princípios de colagem, ruptura e embaralhamento da unidade espacial. Participou de projetos como Rumos Itaú Cultural, Salão Arte Pará; Bienal de Curitiba, Residência ZK/U, em Berlim, AnnexB e Brooklyn Brush, em Nova York, Fikra Graphic Design Biennial, em Sharjah, Emirados Árabes, IASPIS residency em Malmö, Suécia e CND + Cité Internationale des Arts, Paris.  

Olivia Ardui é curadora e historiadora da arte interessada no cruzamento entre artes visuais e performativas, convenções de representação das imagens e das cenas, assim como de seus bastidores nos circuitos e espaços institucionais. Depois de um mestrado sobre o trabalho do artista belga David Claerbout pela UCLouvain (2012), Olivia se mudou pro Brasil onde atuou como curadora no MASP (2017 - 2020), no Núcleo de Pesquisa e Curadoria do Instituto Tomie Ohtake (2013 - 2016) e como parte da equipe curatorial da 12a Bienal de Cuenca no Ecuador (2013-2014). Atualmente trabalha como curadora independente em Bruxelas, assim como professora assistente no departamento de História da Arte e Arqueologia da UCLouvain (Bélgica) nas disciplinas de Introdução à prática científica e metodologia geral, Iconografia e Iconologia e o Seminário de vanguardas à arte contemporânea. 

Larissa Ferreira é gestora de projetos culturais, possui mestrado em Artes, Administração de Artes (The City University of New York - Baruch, 2018) e especialização em Gestão de Projetos Culturais pelo Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação, CELACC, ECA/USP (2022). Atuou frente à organização AnnexB (2015-2020), que facilitou na cidade de Nova Iorque um programa de residência artística voltado à artistas brasileiros residentes no Brasil e exterior. A missão do AnnexB foi realizada através de três pilares : Residência Artística, Programas Públicos e Arte Pública. 



Contatos internacionais : 

Katharina Hoffmann | Berlinische Galerie, Berlin - A/C Manuela Eichner
Landesmuseum für Moderne Kunst, Fotografie und Architektur
Grafische Sammlung
Alte Jakobstraße 124-128
10969 Berlin
Tel. (+49) - (0) 30 789 02 863
Fax (+49) - (0) 30 789 02 720


Anja Lutz | The Green Box and A-Z, Berlin - A/C Manuela Eichner
Anja Lutz is a designer for art books and has co-founded The Green Box in 2006 an A-Z. She was the initiator and art director of the international art and design project shift!, that has been presented at numerous festivals, exhibitions and lectures. She received the European Adobe Design Award, was Visiting Professor at the American University of Beirut, lecturer at Bauhaus Universität Weimer and Universität der Künste Berlin, and also Fellow at the Akademie Schloss Solitude and the Jan van Eyck Akademie. Her design has always been inspired by her passion for art. Anja Lutz lives in Berlin.


Michelle Elligott | MOMA, New York - A/C Pedrinho Barbosa 
The Museum of Modern Art
11 West 53 Street
New York, NY 10019
moma.org