Instalação MONSTERA por Manuela Eichner
Fotos e video : Clara Soria
Texto : Thais Gouvea
Apoio : FoodPass e Slow Food


Como podemos salvar um alimento do risco de extinção? Simples: reafirmando sua importância e reincorporando-o em nossas vidas. Sob essa premissa o Movimento Slow Food criou em 1996 a Arca do Gosto, uma mobilização cujo objetivo é identificar e inventariar tipos de grãos, espécies de frutas, de verduras e animais que atuam como base de nossa alimentação primordial. Uma ação que, além de aprimorar a nosso paladar, promove a sustentabilidade, o enriquecimento cultural, social e econômico.

A Arca do Gosto é então uma grande cadeia composta de elementos essenciais para nossa sobrevivência e, por que não, para nossa experiência gustativa e estética. Para expor, de forma poética, parte desse imenso patrimônio convidamos a artista Manuela Eichner. A prática de Eichner recorre a princípios da colagem para reconfigurar e embaralhar elementos e seus significados no plano e no espaço podendo se utilizar de vídeos, performances, esculturas, instalações e murais.

Para a presente mostra, a artista desenvolveu uma obra site-specific de sua série Monstera Deliciosa, uma colagem tridimensional híbrida e imersiva composta de imagens, ingredientes e espécies vegetais em extinção da região Sudeste do Brasil, e que serão incluídos no catálogo da Arca. Esse rico e múltiplo emaranhado vivo é um intento de traduzir a riqueza da biodiversidade daquele território e ao mesmo tempo reiterar essa rede de conexões que circunda uma relação vital: humano-natureza.

A união da arte e da vida carrega potencial revolucionário, como já defendia o grande artista alemão Joseph Beuys (1921-1986). Partimos dessa sua luta para inserir aqui essa massa poética como forma de sensibilizar o público e resvalar no sonho daquele artista de gerar uma "arte ampliada", que seria parte integrante da vida e portanto fundamental no processo de formação e organização social. Para ele, todo trabalho humano possui uma dimensão estética e digna e que não pode ser subestimada. Por isso, a proposta de unir a obra de Manuela Eichner à Arca do Gosto nos engaja a agir e vai ao encontro da máxima inspiradora colocada por Beuys: a revolução somos nós.