ISSO É SOBRE UMA EXPERIÊNCIA

E não existe experiência que não seja coletiva. Existe a casa, o gato, a planta, a imagem, a cor, o sol, o céu, eu, o outro. Mas a casa só é casa porque existe o gato, a planta, a imagem, a cor, o sol, o céu, eu e o outro. A planta só é planta porque existe a casa, a cor, a imagem, o céu, o sol, eu e o outro. Aquela imagem só é aquela imagem porque existem as outras imagens, as cores porque existem as outras cores, o sol porque existe o céu, eu porque existe o outro. Ninguém é só. Só somos na relação com o mundo. Então, se isso é sobre uma experiência, isso é sobre encontros.

Para construir uma experiência é preciso fazer as pazes com o tempo. Não podemos controlar, desprezar, contestar, renunciar o tempo, é preciso reverenciar, cultivar, acatar o tempo, com todo o corpo. Nossa relação com o tempo não pode ser uma luta, precisa ser uma dança. Então, se o que vivemos foi uma experiência, esse relato é um manifesto.










ISSO É UM
MANIFESTO

Reivindicar o acontecimento: os encontros e sua duração! Sua duração natural, seja ela qual for. Reivindiquemos o tempo da experiência para aí sim poder partilhar oqueocorpolembra.

Essa experiência durou um ano, um ano pandêmico, de reclusão e urgência. E nunca foi tão importante viver o presente. Nem antes, nem depois, agora. Para e olha, você está aqui.

Ficamos juntas de março a março, permitindo-se ir, voltar, dar, receber, inventar contornos, esconder, mostrar, saltar, voltar atrás, descobrir. Uma dança íntima com o tempo. Doze meses à deriva. A palavra “planeta” provém da raiz grega planaomai, que significa “vagar-se”, “perder-se”. Então “estar á deriva é o primeiro atributo de todos os corpos desse universo”, escreve Emanuele Coccia. Reivindiquemos essa natureza!

Vagar é dar a chance ao tempo de lhe entregar o acaso. Perder-se é dar chance ao acaso de decifrar o que se esconde a sua frente. O olhar vaga pelas imagens, perde-se até enxergar. Combinar elementos, sentir as cores, retornar a deriva até encontrar um lugar, ficar lá. Revelar.

O acaso é o maior presente para quem cria, como escreve Peter Pál Pelbart, “é um encadeamento mágico ou ficcional de eventos, um delírio concreto, capaz de embaralhar lugares e o tempo”.  Mas para ganhá-lo é preciso dizer sim. Sim, para iniciar o jogo. “Saber afirmar o acaso é saber jogar”, provoca Nietzsche.

Na casa-casulo que engendramos escolhemos dizer sim, mesmo com toda a dúvida que vinha de fora, mesmo com todo o medo. E nesse jogo inaugurado, nesse tempo instaurado da experiência, reafirmamos a vida mesmo estando a espreita da morte.














Manuela Eichner é uma artista visual múltipla, a sua produção abarca desde videos e performances até oficinas colaborativas, passando pelo desenvolvimento de ilustrações, murais e experiências ambientais. Nessas diferentes frentes recorre sistematicamente a princípios de colagem e de conexão com as plantas.

Casa Líquida é uma performance realizada pela artista Julia Feldens, cuja a ação é abrir sua casa para um uso coletivo. Durante seis anos seu espaço privado serviu de morada e lugar de criação para mais de 1700 artistas, engendrando um novo modo de estar junto e fazendo girar uma economia essencialmente afetiva.









Projeto e direção Manuela Eichner
Video Cigarra Filmes
Direção, Fotografia e Cor Vicente Otávio
Assistência de Fotografia Vitor Campanario
Edição Ernesto Filho
Trilha Sonora Marcelo Cabral
Mixagem Daniel DvBz
Fotos Debby Gram
Design gráfico Thiago Eichner
Texto Julia Feldens
Tradução Camila Leichter
Web Design Guilherme Galarraga
Gráfica Insign





MANUELA EICHNER
manueichner@gmail.com
Casa Líquida
São Paulo, Brasil
2020-2021